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Penúria

Penúria Não precisou  muito pra vida se vestir em festa, bastou meus olhos encontrar os teus e a luz da tarde se misturar com a luz de teu olhar enquanto o meu olhar se perdia no desenho de tua boca. Tua presença é como sol que rasga sombras e tintura cores, revelando que tua ausência deveria ser banida por decreto, do céu de minha vida. Dá pena ver, que não te ver, transforma minha vida em pena. (Paulo da Vida Athos)

Jazigo

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          J azigo               Sou pedaços de mim nessas lembranças de nós, sou cacos do que fomos ontem que vou tentando juntar como quebra-cabeças em que tento montar a imagem do que fomos, e o perfume que exalamos do cheiro de nossa pele, depois do amor.   Sou essa perdição no tempo, esse desperdício de viver a loucura da busca insana de um tempo que já se foi e retorna apenas em minhas lembranças, como um delírio, no qual acaricio e busco no espelho da memória os momentos em que fomos um.   Rasguei todos os versos com que te vesti, até aqueles que não escrevi e, junto, os teus retratos, as roupas que espalhastes em minha vida, em minha sala, e um a um catei todos os fios de teus cabelos espalhados e meu caminho, lançando-os ao vento.     Queimei os...

Em branco...

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Em branco. Errei milhões de vezes, e foram tantas que não dou conta de contar. Como? perguntarão os puros, aqueles que tenho procurado para derramar os meus pecados: quase anjos, que nunca erraram, que não pecaram, que nunca estão, que nunca vejo, que não caíram, que não amaram, que não perderam, que não mataram, mas não viveram. Onde estão? Procurei em um milhão de ombros, e perfumes que se misturaram com o perfume de meu corpo, de meu copo, do suor de meu despudor, mas não encontrei o confessor. Alguém que não tivesse pecado como eu, andado por descaminhos a devassar os medos, a se entregar a devassidão que chamam vida, à solidão acompanhada dos perdidos, capitaneando noites, consumindo os dias, para a vida fazer sentido. Desisti. Esperarei outra noite qualquer, a mesma bebida no copo, o mesmo sorriso na boca, o beijo de outra mulher a quem chamarei de princesa, a quem não di...

Cativos

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Cativos Não é preciso muito mais que um teu olhar, apenas, para habilitar-me à vida. Desvivo em tua ausência! Como luar de lua nova, como verso sem rima, verso não lido jogado fora. Gosto de tatear teu rosto com meu olhar, como se avistasse um quadro de perfeição impressionista. Um Monet, um Renoir, emoldurado em minha memória para expô-lo em vaidade ao meu amor. Sim, expor a ele, culpado isolado de tudo que me contenta e da maldição que me atormenta. Sim, ele, o algoz, aquele que me torna taciturno, amaldiçoado, pedinte em teu afastamento, imponente quando a teu lado, expor a ele que o que me cativou, teu rosto, primeiro o escravizou, para depois deixar-me escravizado. Somos reféns de ti... Arrastamos o grilhão dos condenados: ele ri de mim, eu o amaldiçoo, eu o menosprezo, ele me consome nesse ritual sem nome, desesperado, no qual ressuscito mil vezes, para poder morrer ...

Ciranda e Sonho

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Ciranda e Sonho Alcanço o quintal E o vento desfralda a camisa Aberta em meu peito nu, Enquanto bebo sol E transpiro luz. Um bem-te-vi Bem-me-vê passar Carregando um comboio de sonhos De menino, de moleque sem dono, Cirandando entre estrelas e lembranças De amor, despojado do ter, Embebido no ser Um momento fugaz na memória, Repleta de gnomos, heróis e histórias De amor, de chão e luar. De posse da rua, Cavalgo uma brisa ligeira Com quem brinco de pique-bandeira, De pião, de botão e de roda, Com canções que não saem de moda, Espreitando a chegada da lua, Esperando a menina passar, Enquanto um aperto em meu peito Sentencia o amor imperfeito Que machuca, de tão grande, Tão mar. Mesmo assim minha alma reluta. Não desperta, não quer despertar. E então quando menos espero, Com perfume e luz de luar Ela entra vestido estampado, Pele clara, cabelos dourados, Mel nos olhos e doce nos lábi...

História em quadrados

História em quadrados Lá vem o herói Da barriga vazia, Com a barriga vazia Pro vazio da vida, De sonhos vazios, Vazios vazios, Dizendo que herói Não deve sonhar. La vem o herói, Da pá e da enxada, Andando apressado, De volta pro lar, Pra vida de sempre, Pra fome presente, Canina, canina, Enquanto o herói Persiste em sonhar. Lá vem o herói, Da boca sem dente, Do filho doente Estendido na cama, Enquanto seis filhos, Ganindo, ganindo, Lhes ganem que herói Não pode sonhar. Mas quando o herói Enxerga a verdade... Lá vem a perícia, Lá vem camburão, Lá vem a polícia, Lá vem confusão, Lá vem a notícia, Cretina, cretina, Provando que herói, Precisa sonhar... (Paulo da Vida Athos)