Jazigo


 
 
 
 
 

Jazigo

 

 

 
 
 
 
 

Sou pedaços de mim

nessas lembranças de nós,

sou cacos do que fomos ontem

que vou tentando juntar

como quebra-cabeças em que tento montar

a imagem do que fomos,

e o perfume que exalamos

do cheiro de nossa pele,

depois do amor.

 

Sou essa perdição no tempo,

esse desperdício de viver a loucura

da busca insana de um tempo

que já se foi e retorna

apenas em minhas lembranças,

como um delírio,

no qual acaricio e busco

no espelho da memória

os momentos em que fomos um.

 

Rasguei todos os versos

com que te vesti,

até aqueles que não escrevi

e, junto, os teus retratos,

as roupas que espalhastes em minha vida,

em minha sala,

e um a um catei todos os fios

de teus cabelos espalhados e meu caminho,

lançando-os ao vento.
 

 
Queimei os lençóis que usamos,

e tudo que guardava teu cheiro.

 

Apaguei teus rastros

dos caminhos que caminhamos juntos

como quem atira fora flores mortas,

troquei até as chaves das portas

que que te levavam a mim

na crença de que apagaria da pele

a memória da tua pele.

 

Inútil.

 

Basta chegar a noite e abrir a janela.

 

Teu cheiro entra por ela

junto à brisa e o perfume do jasmim,

trazendo tudo de volta.

 

Seria fácil

se apenas morresse o amor,

desde que ele não ficasse enterrado...

em mim.

 

 

(Paulo da Vida Athos)

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