Em branco...
















Em branco.


Errei milhões de vezes,
e foram tantas
que não dou conta de contar.

Como? perguntarão os puros,
aqueles que tenho procurado
para derramar os meus pecados:
quase anjos,
que nunca erraram,
que não pecaram,
que nunca estão,
que nunca vejo,
que não caíram,
que não amaram,
que não perderam,
que não mataram,
mas não viveram.

Onde estão?

Procurei em um milhão de ombros,
e perfumes que se misturaram
com o perfume de meu corpo,
de meu copo,
do suor de meu despudor,
mas não encontrei o confessor.

Alguém que não tivesse pecado
como eu, andado por descaminhos
a devassar os medos, a se entregar
a devassidão que chamam vida,
à solidão acompanhada dos perdidos,
capitaneando noites,
consumindo os dias,
para a vida fazer sentido.

Desisti.

Esperarei outra noite qualquer,
a mesma bebida no copo,
o mesmo sorriso na boca,
o beijo de outra mulher
a quem chamarei de princesa,
a quem não direi o meu nome,
a quem calarei os meus versos
enquanto esqueço de mim,
e dos erros que nunca confesso.

Sigo aparando esquinas,
pois o  tempo é veloz,
é complexo,
é remédio e algoz
que faz poesia de pedaços de ser
de pedaços  de mim
sem rimas.


Nele coloco de molho minhas dores,
a as desbotadas cores do que não fui capaz
de entender, de resolver, de perdoar,
nessa longa caminhada dentro da noite
iluminada por rápidas lembranças
que um dia irão se apagar.

Junto com elas, a vida.

Não há em mim o desencanto
por não ter achado o confessionário.
Fui louco, fui demônio e fui anjo.
Na vida, não fui mero figurante.
Nela, não passei em branco...


(julho 2015)

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