Meus irmãos



Cidão e Corsário,

Amanhã, quinta, estarei fazendo um exame e certamente tudo correrá bem e depois de amanhã estarei novamente amando e sendo amado pela vida. Esse amor é antigo e se renova a cada manhã, e mesmo quando aos meus olhos impermitiam contemplar o azul do céu, eu o via através dos olhos de minha imaginação. Coisa de poeta e de louco.


Escrevo agora quando a noite já caiu junto com a chuva para lavar o ar e as calçadas para minha alegria e prazer. Gosto muito do barulho dos pingos da chuva que cancionam em meu telhado (temos muita sorte de termos telhas em nossas casas), e essa canção me leva a tempos idos e a pés descalços correndo pelos paralelepípedos em regatas memoráveis onde os veleiros eram palitos de sorvete que pegávamos nas calçadas (claro que tinha sempre um mais engenhoso, mas de pouco sonhar, que fazia um barquinho de papel que não suportava as corredeiras nem os pingos das chuvas). E assim muitas foram as horas e as tardes de minha infância.

De lá para cá, nunca abri mão de meu maior tesouro: sonhar. Muito menos deixei de agradecer à Vida as coisas belas que me permitiu e permite viver, a mulher e os filhos que colocou em meu caminho, nem as lágrimas que derramei. Tudo isso fez de mim o que sou e gosto de ser quem sou.

Entre os tesouros que a Vida coloca em nosso alforje, nessa viagem sem começo nem fim, o amor e a amizade são os maiores e mais valiosos, mas, ao contrário de meu xará que ficou cego quando se dirigia para damasco: a Amizade é maior que o Amor.

Falo do alto de minha experiência em Amor! Afinal, quem convive mais com o Amor que o Poeta?

Muitos vivi até encontrar minha mulher que começou com a paixão, passou pelo Amor comum, até ser o que hoje é: o Amor-Amizade, que nunca morre.

Nunca tive nem fui de ter muitos amigos. Sou amante exigente e desconfiado...

Além de meus filhos e de minha mulher, amigos só tive ao longo da vida, quatro ou cinco. Desses, apenas vocês continuam vendo o mesmo azul e respirando as mesmas auroras que eu. Os demais se foram antes de mim, antes de nós, para o grande oceano indecifrável para onde todos irão um dia.

Por isso, por não saber se amanhã dançarei minha última valsa com minha derradeira namorada, quero aqui deixar registrados meus sentimentos, minha amizade, meu respeito, minha admiração e o grande amor-amizade que sinto por cada um de vocês que sempre estiveram presentes em minhas horas, independente se eram nubladas ou raiadas de luz.

Agradeço à Vida por ter conhecido e poder privar dessa amizade leal e inteira, que recebo de vocês.

Não poderia deixar de falar isso agora vez que faço o que manda meu coração, como todo poeta.

Vida longa, paz e saúde para os dois, para a mais velha, para as crianças e para os que amam vocês!

Rio de Janeiro, 20:28h do dia 11 de julho de 2007.

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