2016, Ano Macunaíma
Ano macunaíma
Ouvi gente maldizer as horas do tempo desse ano que se despede deixando marcas nas praças e nas gentes, como fosse ele amaldiçoado, um pária, despojado até do direito de ter passado, de ser lembrado.
Ano macunaíma, sonso e cretino assim, nem deveria ter existido, ouvi numa esquina, duas mulheres vestindo camisetas verde-amarelas.
Realmente 2016 foi um ano ladeira abaixo para a maioria: os pobres, os banidos, os excluídos, as minorias que fazem parte dessa maioria de despossuídos de direitos que formam a grande base da pirâmide: a massa.
A bandeira da luta de séculos em busca de alguma justiça e igualdade social não resistiu desfraldada muito tempo; pouco mais de uma década e, durante ela, não passou uma semana inteira sem que sofresse atentados.
Uma, duas vezes, três vezes! Mas quatro vezes era insuportável. Que negócio é esse de sairem da senzala? do jugo? Que papo é esse de invadirem meu shopping?
Minha praia vá lá, água e areia tem mesmo pra todo mundo, e rock é mesmo pervertido. Mas meu aeroporto? Aí tá de sacanagem!
Ver aquela gentalha infestando aeronaves como baratas, ouvir aquele dialeto tipo "o probrema é o seguinte", "casca uma laranjinha pra nóis aí, meu", "num vai tê armoço não?, "Ih! que probreza", na poltrona ao lado, é foda.
Não deu para uma minoria seleta aguentar mais quatro anos de governo progressista.
Então, o que fazer?
Simples, a receita tradicional.
Corrupção, governo corrupto, mar-de-lama, governo incompetente, comunistas, e a mídia, o martelo da mídia agora mais sofisticado. Prensas quase aposentadas e a nova vedete, a TV!
Com ela entrando na vida de 90 milhões de famílias todos os dias, quatro vezes por dia, é mole!
Basta repetir a arenga. Deu certo com Getulio, deu certo com Jango, quase deu certo com Lula, porque não daria certo com uma mulher? E deu certo.
Foi como em Hamelin, a flauta eletrônica foi eficaz!
A classe média, que historicamente odeia a classe dominante tanto quanto explora e odeia as classes abaixo dela, foi o alvo.
A TV dava a senha, tatatatá: e o domingo na orla tinha mais um programa antes das geladinhas na areia: gritar fora Dilma!
Chovia pato!
Pior que a classe média estava hipertrofiada pelos nela recém ingressados - que agora perceberam o engodo - e nossa velha política não se fez de rogada: de uma tacada, menos de 500 deles invalidaram mais de 54 milhões de votos.
Tiraram Dilma, eleita democraticamente, e, em em seu lugar, colocaram uma quadrilha, como agora todos já sabem, liderada por Temer, o traidor.
Aí vem o golpe que antecede o golpe final: os políticos passaram a legislar contra o povo; contra os que elegeram Dilma e contra os que apoiaram o golpe.
E assim o projeto vencido nas urnas passou a ser votado e aprovado pelos mesmos políticos que se negavam a votar e aprovar os projetos que favoreceriam o trabalhador e o povo brasileiro, quando Dilma os apresentava.
Só que a dose foi muito forte e eles perderam o controle além do juízo, e tal como um trem desgovernado o ovo-da-serpente chamado Lavajato acabou detonando a economia de forma estrutural.
O que era para ficar em círculo coordenado e predeterminado se tornou um Orós e grandes empresas brasileiras foram desmoronando, e a economia, que é como a engrenagem de um relógio suíço, desandou junto, e o tal rombo que a corrupção fez na Petrobras se tornou gorjeta perto do rombo que a lavajato provocou em nossas mais lucrativas empresas e na economia nacional.
Como consequência, número de desempregados atingiu 12,1 milhões de pessoas no trimestre encerrado em novembro último, número 33,1% maior do que o mesmo trimestre do ano passado; e vai piorar em 2017.
Ou seja, o golpe saiu inúmeras vezes mais prejudicial que a corrupção que, como sabemos, não vai acabar.
O golpe esta em movimento. Depois que Temer fizer a parte que lhe cabe será descartado. Igualzinho aos paneleiros de minha rua e aos patinhos que idolatraram a FIESP.
Risível.
Mas apesar de tudo não vejo 2016 como um ano perdido. Coisas maravilhosas aconteceram nele, e outras, tão maravilhosas quanto, foram preservadas.
Entre elas a vida, a esperança, a capacidade de sonhar, de crer, de lutar e prosseguir devem permanecer intactas.
Perdemos uma luta, companheir@s, mas lutar faz parte da vida de quem tem como objetivo mudar as coisas. A luta mantém vivo.
Não sou peixe morto que só nada a favor da maré.
Desembarcarei de 2016 mais experiente, mais forte; viver sempre fortalece.
E embarcarei em 2017 cheio de esperança, sonhos, e vontade de realizá-los.
A conversa que relatei no inicio, foi de duas mulheres de bem que estavam horrorizadas com as mudanças na aposentadoria.
Lembro tê-las visto comemorando a saída de Dilma...
Feliz ano novo para tod@s!!
Comentários